terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Quando a profissão músico vira um jogo


O primeiro instrumento que ganhei na vida, foi uma bateria. Na época, eu tinha uns 5 anos de idade, e claro, não segui por esse caminho. Aos 8 anos, me interessei por teclado e comecei a estudar, mas ainda não era o que eu queria. Finalmente, com 11 anos, comecei a tocar violão mas levei o estudo a sério aos 16 anos, quando ganhei uma guitarra.

Um ano depois de ganhar a guitarra, comecei a construir uma carreira musical. Mas para explicar melhor o que quero dizer, carreira não é sinônimo de sucesso, apenas de que comecei a criar uma história como músico. Profissionalmente, acabei dividindo a música com o jornalismo, e fiz com que ela se tornasse algo rentável em minha vida um pouco tarde. Ainda assim, a música se tornou uma das minhas profissões.

Desde o ano 2000 vivo música constantemente. Tenho quatro CDs autorais gravados, já gravei para uma infinidade de pessoas que até perdi a conta. Fui sideman de diversos músicos, acumulei muitas horas de estúdio. Arranjei e compus músicas pra mim e para outros. Produzi e pré-produzi CDs. Ministrei workshops de guitarra, violão e música celta. Toquei em lugares bons, menos do que em lugares ruins. Saí mais feliz do que triste dos lugares por onde toquei. Já toquei para milhares de pessoas e para unidades que pude contar nos dedos de uma mão. Já fui entrevistado algumas vezes por revistas de guitarra, música, programas de TV e rádio. E a maior parte dos estados e cidades desse país que eu conheço foi por causa da música. Mas... ...tem uma coisa que passou a me assustar nos últimos anos.

Alguns músicos mais antigos, com certeza vão se identifcar com isso.
Lembro que na primeira metade da década de 90, quando falávamos em ser um músico de sucesso e olhávamos nossos ídolos com devoção, não passava na cabeça de ninguém a ideia de ser patrocinado por uma marca de instrumentos musicais. Revista de música era sinônimo de revistinhas de cifras que comprávamos para nos ajudar a tirar as músicas que queríamos tocar (solos e riffs, só na base do ouvido mesmo, porque nem tablatura era fácil de achar. Partitura então... quase impossível).
Na segunda metade dos anos 90 surgiram as revistas especializadas em nosso país. Isso foi uma evolução impressionante na música, afinal de contas, podíamos ter as informações do que acontecia no mundo afora com mais facilidade. Mas ainda assim, tudo era muito "romantizado", embora capitalizado, mas não tão voraz quanto nos dias atuais.
Com a popularização da internet, principalmente nos últimos anos, o acesso a informação ficou gigantesco. Tanto é que, atualmente, existem revistas online sobre instrumentos musicais. A facilidade de assistir vídeos no YouTube e não apenas ver partituras e tablaturas, mas ver como se faz um solo ou se toca uma música, chega a ser assustadora.

Pode ser apenas uma opinião e pensamento de alguém que está envelhecendo, mas realmente acho que o meio musical ficou sem graça. Também não posso ser injusto, pois existem excelentes músicos tocando e outros que são compositores muito bons. Mesmo assim, são parte de uma minoria.
O que ficou chato, é que tudo virou um jogo, uma disputa de quem é o melhor, quem tem mais patrocínio, quem se propaga mais, quem toca com mais bandas etc.
Lembro dos dias onde tocávamos por prazer, onde ser um bom músico não era sinônimo de ter um vídeo com milhares de visualizações. Lembro dos dias onde as empresas buscavam um músico para dar patrocínio e não onde os músicos se matavam para tentar ter endorse de uma marca (obs: com raras exceções, algumas empresas ainda contam com "olheiros" e buscam músicos de qualidade para patrocinar).
Algumas marcas de instrumentos musicais têm entre seus patrocinados gente que não apenas possuem uma qualidade duvidosa (e outros que nem mesmo têm uma carreira de verdade), mas também "prostitutas" musicais, que não conseguem nem mesmo ter um ano de fidelidade com a marca que estão representando. Muitos são os "amigos do amigo do dono", que se fosse para fazer uma peneira radical não teriam mérito nenhum para estar ali.
E o que considero mais triste, músicos sensacionais que fazem parte da história desse país, muitas vezes utilizando instrumentos e equipamentos de marcas conhecidas como verdadeiras "nabas", apenas para manterem-se patrocinados e poderem "sobreviver" nesse meio carnívoro que a profissão músico se transformou.

Confesso de peito aberto que também já fiz sacrifícios para tentar ser patrocinado. Já gastei tempo fazendo contatos e visitando empresas. Corri atrás de gravadoras que se interessassem pelo meu trabalho e tentei a todo custo ter visibilidade.
Com raras exceções das raras parcerias e amizades que formei com pouquíssimas empresas e gravadoras, posso dizer que na maior parte do tempo, só corri atrás do vento. Vaidade, nada além de vaidade.

A profissão músico virou um jogo. Mas um jogo desonesto, onde não é a qualidade e nem os anos de estudo que são honrados. Mas o famoso "QI", ou o "marketing bem feito" (mesmo que mentiroso, basta ser bem feito).
Talvez minha frustração venha do fato de eu não saber jogar esse jogo, e de quando tentei jogar, ter perdido. Mas definitivamente posso dizer uma coisa: estou fora!

Não estou fora da música e nem de tocar ou gravar. Estou fora da disputa.
Não vou mais perder o meu tempo tentando buscar visibilidade ou procurando provar do que sou capaz. Parafraseando uma música que gosto muito, posso dizer:

"Quantas chances desperdicei,
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava
Provar nada pra ninguém."

(Quase sem querer - Legião Urbana)

Nesses últimos anos, por tentar jogar esse jogo desonesto, desperdicei muita coisa.
Desperdicei meu prazer de tocar simplesmente pelo fato de eu amar ser músico. Desperdicei conversas com amigos que fossem apenas pelo prazer de conversar, e não para tentar chegar em algum lugar na minha carreira. Perdi noites e finais de semana com minhas filhas, onde cheguei a tocar de graça com a falsa promessa de que aquilo me colocaria em exposição. Perdi a chance de conhecer pessoas que estavam escondidas por trás dos músicos que eram, pois deixei me levar pelo objetivo "comercial musical", não pela construção de uma amizade.
Também ganhei muitas coisas, onde a principal foi a experiência, mas perdi valores que eu não poderia ter abandonado.

Na realidade deveríamos pensar da seguinte maneira: Se um dia nosso trabalho tiver que ser propagado e reconhecido, que seja por meios normais e naturais, não "pela força do braço".
E mais do que um conselho para outros músicos, esse é um conselho para mim mesmo.
Isso me faz lembrar da frase de um amigo, que acho muito interessante: "Não se propague, um dia Deus te acha".

É claro que como músicos devemos estar atentos às oportunidades, procurar mostrar disposição, serviço e deixar claro que queremos trabalhar. Não é sobre isso que falo.
Falo dessa disputa acirrada que a profissão criou. Esse desespero para ter o patrocínio de uma marca, essa ganância para ter milhares de visualizações em um vídeo, essa falta de fidelidade com marcas que resolvem dar patrocínio (e muitas vezes o cara mete o pé porque descobriu que existe uma melhor). Essa necessidade descontrolável por tocar em qualquer lugar que aparece (mesmo que você tenha abrir mão de coisas importantes).
Tenho a sensação de que entre os músicos e bandas que jogam esse jogo, existe uma falsa amizade. Como se todos pensassem "serei amigo até onde der, mas meu trabalho precisa ser melhor que o dele".


Decepcionado.
Acho que essa palavra resume meu sentimento atual. Mas por outro lado... feliz.
Feliz por saber que consegui abrir meus olhos e querer fazer diferença. Sei que não vou mudar a mentalidade de ninguém, aliás, até acho que a tendência é piorar. Pelo menos, posso fazer de uma das coisas mais prazerosas que sinto na vida, ser uma das coisas mais prazerosas que sinto na vida! (Não uma fonte de desgaste e stress).

Toque por que você ama fazer isso.
Se é sua profissão, faça porque escolheu esse trabalho. Não se mate tentando jogar um jogo onde por mais que você ganhe no presente, pode ser derrotado no futuro (e isso não é porque você é incapaz, mas porque nesse meio ninguém é insubstituível).
Toque com quem gosta de tocar com você, não com pessoas que te "devem uma camaradagem" (mesmo que um dia você descubra ser o único que gosta de tocar com você!).

A profissão, o meio musical e o mercado não vão mudar. Mas se você conseguir mudar a maneira como tem feito as coisas, já será um grande avanço.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

O dia em que resolvemos nos dar valor


Comecei a tocar violão aos onze anos de idade, mas resolvi estudar de verdade quando ganhei uma guitarra do meu pai, aos dezesseis. Nessa mesma fase, já comecei a tocar com bandas em eventos, shows e tudo o que aparecesse para poder divulgar meu trabalho. E conforme o tempo vai passando, você descobre que a música pode ser sua escolha profissional.

No meu caso, me senti obrigado a dividir a música com a área de comunicação. Afinal, não era muito simples dizer que queria viver de música numa família onde não haviam músicos e ninguém compreendia o músico como um profissional de verdade.
Frustrante por um lado, animador por outro.
Frustrante pelo fato de você não conseguir viver exclusivamente da sua paixão. Animador, porque quando a música não funciona, tem um plano B para se segurar (mesmo quando muitas vezes esse plano B se torna o plano A!).

Fato é, que hoje tenho uma carreira musical que segue em paralelo com minha carreira em comunicação. E embora não seja minha única fonte de renda, ela tem muito valor para mim. E justamente por ter valor, resolvi valorizar o músico que sou e o trabalho que tenho.
Procurei tirar uma temporada de recesso para pensar – e repensar – o quanto me (des)valorizei nos últimos anos. Pensar no que quero da minha carreira e no quanto posso viver meu sonho sem que ele se torne um pesadelo.
Fiz uma descoberta um tanto quanto assustadora sobre mim e quero compartilhar isso:
– Fiz do meu trabalho musical pior do que uma prostituta faz com o seu corpo.

Assusta um pouco esse tipo de afirmação, mas é explicável.
A prostituta pelo menos cobra pelo seu serviço, e por muitas vezes eu entreguei meu trabalho de graça acreditando que fossem me valorizar.

O problema do músico é a sede que ele tem de ser valorizado e descoberto por alguém que vai mudar sua vida. É quase como um com conto-de-fadas, onde um dia um "empresário fada-madrinha" aparecerá e fará acontecer o rumo de uma tão sonhada carreira.
Desconheço um músico que não sonha em um dia ser contratado ou descoberto por alguém. Acredito até, que boa parte dos que se oferecem para tocar em alguns lugares, tomam esse tipo de atitude sonhando em serem vistos e aparecerem nos holofotes da mídia.

Já toquei em muitos lugares onde fui sonhando demais, fui legal demais e consequentemente, me ferrei demais.
Minha carreira musical sempre foi dividida entre trabalhos comuns (ou seculares) e trabalhos no meio gospel. E nesse segundo meio, a coisa chega a ser um pouco mais assustadora.
A grande maioria dos eventos gospel, sejam igrejas, acampamentos, shows, feiras e outros, trata as bandas como "ministérios chamados por Deus para tocar". E se as bandas são "ministérios chamados por Deus para tocar" – ainda mais se não forem tão populares –, esses infelizes tem que tocar "pela fé" (em outras palavras: gratuitamente). Pois o importante é você fazer crescer seu "ministério", mas fato é que alguém está lucrando por trás do "crescimento do seu ministério". E o mais dolorido é saber que o mesmo cara que te chamou "pela fé", também depositou uma bela grana na conta de um artista famoso (que normalmente tem uma música de qualidade duvidosa) para que ele tocasse no mesmo lugar onde você está "tocando de grátis"!

Também é fato que existem aqueles que valorizam as bandas que se dispõem para tocar quase de graça. Em todo meu tempo como músico, já encontrei pessoas que nos deram mais do que merecíamos, e outros, que tiraram do "nada" que tinham apenas para nos honrar. Aprendi que na grande maioria das vezes, são os pobres quem honram mais que os ricos. Essas pessoas normalmente surgem em lugares que vão desde Encontros de Motoclubes e ONGs, até igrejas de periferia e cidades pequenas.
Confesso que foram situações que me levaram às lágrimas por saber que ainda que sejam poucos, existem pessoas que sabem dar valor, mesmo quando eles mal têm para si.
Tenho até vontade de citar os nomes dessas pessoas, mas por medo de esquecer de alguns, prefiro não falar.

Também já toquei em eventos onde o organizador desapareceu no final nos deixando com a conta do hotel, sem mesmo ter um táxi que nos levasse para o aeroporto (e por sorte, tínhamos pelo menos a passagem da volta). Em outra situação, encontrei um organizador escondido dentro de uma igreja, deitado, fugindo de mim para não me pagar nem o valor do transporte.
E se eu for citar todas as situações negativas que já passei, chega a ser triste, mas elas superam as positivas.

E nesse recesso em que estou me dando uma pausa para pensar, cheguei a conclusão que nunca desisti da música porque não consigo viver sem fazer isso. Pois a sede e a vontade de tocar é tão grande, que até mesmo das experiências ruins acabei tirando proveito.
Só que o tempo passa e um dia você não tem mais vinte e poucos anos. Um dia, você passa dos trinta e vira pai, tem família, tem obrigações e descobre que precisa se valorizar.
Se você contabilizar o quanto um músico gasta para manter sua rotina de ensaiar, viajar e tocar, vai entender o motivo de alguns cachês.
Vamos deixar algumas coisas definidas, existe muita gente cobrando cachês abusivos, desnecessários e que apenas são aproveitadores de um sucesso momentâneo.

Faça as contas:
Ensaio + cordas de guitarra/violão + manutenção de equipamentos + combustível e manutenção do carro + aluguel de van + valor pago de músicos contratados para a banda + prensagem de CD + divulgação publicitária + alimentação da banda...
...e essa conta pode aumentar muito.

A questão que fica é a seguinte:
Será que vale todo tipo de esforço e perda financeira apenas para conseguir um espaço para tocar e divulgar seu trabalho?

Não. Não vale.
Precisamos aprender a nos dar valor e principalmente, não ter medo de nos valorizar.
Não precisamos ter medo de ter poucas agendas, de termos poucos contatos e poucos lugares para tocar. Vale muito mais tocar em poucos lugares sendo valorizado, do que ter uma agenda cheia no mês onde seu déficit financeiro supera seu lucro (ou muitas vezes, você não consegue ficar nem no "zero a zero").
Conheço muita gente que faz papel de ridículo para tentar ser famoso. Imploram para tocar, fazem amizades por interesse, aceitam endorse de marcas que nunca comprariam, postam fotos mentirosas de momentos fictícios que nunca existiram...  ...fazem qualquer coisa, corrompem seu caráter e acabam com o seu valor.

Existe um ditado de "vó" que é muito verdadeiro: "Quem se oferece não tem valor".
E isso é verdade.

A valorização tem que partir de nós, músicos. Embora a venda de CDs seja uma ficção hoje em dia, voltamos a viver o momento onde nossos shows são mais importantes do que a venda dos CDs. Divulgar sua música pela internet é a coisa mais fácil do mundo.
Mas lembre-se, por mais que o download do seu CD seja gratuito, o seu show tem preço e você como músico tem um valor muito maior do que algumas cifras ou um refrigerante gratuito no final da apresentação.

sábado, 26 de maio de 2012

A influência que se tornou nossa tendência



Algumas coisas são bastante engraçadas na vida de um músico. Geralmente, começamos em nosso instrumento de uma maneira, e vinte anos depois, você se vê bem diferente do que era no início de sua jornada.
Há algum tempo postei aqui os álbuns que mais me influenciaram como músico (http://meucerebrotemladodireito.blogspot.com.br/2012/01/todo-musico-teve-alguma-influencia-eu.html), mas entre todos eles, teve um que mudou minha trajetória.
Antes de conhecer a música celta, eu já era um apaixonado por músicas étnicas. Em uma banda de fusion que tive com alguns amigos, sempre procurava uma maneira de colocar influências de outras culturas para fugirmos do óbvio. E sempre gostei de chamar alguém que tocasse um instrumento diferente do padrão guitarra, baixo, bateria, teclado e violão.
Minha esposa, Jackie, era flautista de uma orquestra protestante, e se você tirasse a partitura da frente dela, você deixava a moça mais perdida do que uma surda num bingo.
Conhecemos o The Corrs em 2001, quando estávamos em Israel. Assistimos um especial deles no canal VH1, e ficamos um pouco atordoados com o que estávamos vendo. Aquela fusão entre a música tradicional irlandesa (que tem toda sua origem no celta) e o pop rock muito bem feito da banda, realmente mexeu conosco.

Depois que voltamos ao Brasil, estávamos andando pela rua Teodoro Sampaio (famosa rua de instrumentos musicais de São Paulo) e achamos um tin whistle (flauta celta) para vender em uma loja por "míseros" trinta reais. Não pensamos duas vezes e compramos aquela flautinha.
Mal sabíamos que aquilo era o início do que se tornaria a música celta em nossas vidas.
Adquirir material para estudar a música celta, há cerca de doze anos, era muito difícil (hoje melhorou um pouco, mas ainda não é fácil). Encontrar um professor de tin whistle para a Jackie, era mais difícil ainda. Conseguimos importar alguns métodos, DVDs, songbooks e "ralamos" de estudar. Eu mesmo usava as partituras de tin whistle para a guitarra, apenas para aprender como funcionavam os riffs.
Não somos especialidades no assunto, para falar a verdade, apanhamos muito e somos bem fraquinhos se comparados com outros grupos que procuram tocar o mesmo estilo. Mas realmente acho que nossa maior qualidade está no fato de compormos nossas próprias músicas e criarmos nossos próprios riffs. Claro que sofremos a influência do que estudamos, e certamente, essa influência se tornou nossa tendência.

Nesse caminho que estamos percorrendo através da influência da música celta em nossa musicalidade, muitas coisas boas aconteceram. Apenas para citar os artistas de maior renome, a Jackie gravou seus tin whistles para Nívea Soares, Chris Durán e Crianças Diante do Trono. Eu toquei com o Soul Survivor (Inglaterra), 3 Rock Youth (Irlanda), Fernandinho e Adhemar de Campos. E juntos tocamos com diversos artistas e grupos conhecidos e desconhecidos, e todos sempre foram uma honra gigantesca para nós. É impossível esquecermos de amigos como James Padley, Judson de Oliveira, Clamor Pelas Nações, André Argente (Jocum), Gerson Freire, Ministério Arca, Rodrigo Lisboa e Elias Brandt. Ainda faltam muitos outros nessa lista.
Também foram várias as mídias onde aparecemos com nosso trabalho. Como a Guitar Player, Cover Guitarra, Roadie Crew, TV Paulista, Rede Super, mídias e sites internacionais e nacionais.

Tudo isso conseguimos através da nossa fusão maluca entre música celta, rock e folk, além da nossa coragem em arriscar.
Se fizemos dinheiro com isso?
Nada. Somente o necessário para bancar nossos CDs.
Então porquê não desistimos?
Porque nossa paixão pela música é mais forte do que as dificuldades que enfrentamos no caminho. E a música parecer que consegue ser como "a droga do bem". Ela te domina de forma impressionante, fica na sua cabeça, mas não te destrói. Pelo contrário, ela te faz sonhar, fugir da realidade e pensar que as coisas podem ser muito melhores do que são.

E nessa nossa loucura, estamos em fase de gravação do nosso 4º CD, o Back to the New. Certamente isso nos dá um misto de sentimentos, como animação, alegria, medo e confiança. Mas vontade de parar, mesmo sabendo que não temos retorno financeiro nisso, certamente não dá.
Esse é mais um capítulo da nossa história, e tenho certeza de que muitos outros capítulos virão.

Curta um pouquinho da gravação do nosso novo CD.


segunda-feira, 16 de abril de 2012

Músico mendigo


Ser músico é uma benção. É uma dádiva divina.
O simples prazer de poder transformar em melodias e harmonias um sentimento seu, já faz de você alguém especial.
Toda arte tem a sua beleza, mas a música exerce um fascínio diferenciado. A música consegue ser atraente, apaixonante, provocante, reflexiva, arrebatadora e em muitos casos, até mesmo revolucionária.

Embora todas essas verdades e muitas outras possam ser ditas sobre a música, existe uma questão que nunca se cala: o músico, embora seja visto com admiração, é tratado como um mendigo.

Forte isso, não?
Pensa numa coisa. Os que conseguem destaque são uma minoria, e quando digo que são uma minoria, isso quer dizer que são muito menos do que o pouco que você imagina!
O que existe de músico num país como o Brasil, não é brincadeira. Brinco que existem os profissionais (que vivem da música), os amadores (que não vivem da música, mas amam a música além do hobby), e os gostadores (que gostam da música e muitas vezes se arriscam a tocar como hobby).
Mas vamos falar dos profissionais. Tem muito músico bom em nosso país.
Talvez, você nunca vai ouvir falar de alguns, mas pode acreditar numa coisa, um músico sensacional vive muito perto de você.

Assim como em todas as profissões, existem panelas montadas onde somente os incluídos conseguem espaço. Eu mesmo já estive envolvido em gravações onde "olharam torto" para mim porque eu estava "furando a panela dos amigos". Não sejamos hipócritas, isso existe.
Independente disso, acho triste a maneira como bons músicos são tratados. Ganham pouco, trabalham muito, divulgam-se sozinhos e quando ousam conseguir alguma coisa maior, são obrigados a se desdobrar para fazer dar certo (ainda assim, correndo o risco de serem "esquecidos" ou deixados como "plano B"). Ou seja, enganar um músico já virou algo comum em nosso país.

O músico brasileiro é tratado como um mendigo que depende de migalhas, moedas e mixarias para conseguir sobreviver.
Sempre tem alguém que adora o trabalho de um músico, mas muitas vezes, esse mesmo alguém também é o responsável por "passar a perna" no cara. Não significa que tudo tem que ser na base da camaradagem, afinal, negócios são negócios. Mas no meio musical, e na maneira como contratam um músico faltam duas coisas: honestidade e respeito.

Sempre observo uma quantidade imensa de jovens guitarristas que se matam na esperança de conseguir endorse de alguma marca. Na ânsia de serem reconhecidos, acabam fechando contrato com cada marca "peba" que produz uns intrumentos ruins, achando que fizeram um bom negócio. (Obs: "fechando contrato" é um modo fictício para dizer que o cara "ganhou" uma guitarra, onde ele teve que pagar 70% do valor para divulgar a empresa, no sonho de que seria ele o divulgado)
Esse é um claro exemplo de quem vive de migalhas!
Não sou contra endorse, de maneira alguma. Acho sensacional o cara conseguir isso, a única coisa que não pode funcionar como moeda de troca é o seu caráter e o seu nome. Mais do que conseguir uma "divulgação fictícia" do seu trabalho (embora existam os que fazem um trabalho sério) , o importante é ter personalidade e caráter.

Conheço diversas histórias de músicos que já tocaram em restaurante para ganhar comida. E se você acha que isso é mentira, deveria sair um pouquinho fora do Estado de São Paulo e conhecer a realidade de outros lugares.
Nada, abolutamente nada paga a nossa dignidade. Mas por muitas vezes, são os próprios músicos quem colocam a dignidade de todos os outros em jogo.

Se o respeito não vem da parte dos outros, pelo menos que venha dos próprios músicos. Seria muito melhor assegurarmos o respeito de nossa arte do que trabalharmos como prostitutas musicais.
Se um dia esse tratamento com o músico vai mudar é difícil dizer. Mas que podemos fazer valer um pouco mais o nosso valor próprio, não dizendo "sim" para tudo, com certeza podemos.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Todo músico teve alguma influência... eu também!

Sempre me pego fazendo algumas listas das músicas e dos artsitas que mais me influenciaram em minha educacão musical. O engraçado é que sempre volto nos mesmos, e a cada dia que passa, menos agregados se juntam nessas listas.
Por fim, resolvi compartilhar um pouco dos artistas (ou CDs) que mais fizeram diferença e que mais influenciaram no meu crescimento musical.
Só uma observação, essa não é uma lista dos artistas que mais gosto, mas dos trabalhos musicais que mais causaram impacto na minha formação musical.


RITA LEE

Cresci ouvindo essa doida do rock brasileiro! Minha mãe era fã incondicional da Rita Lee, tinha todos os discos. Lembro de passar minha infância brincando de carrinho ao lado da caixa de som curtindo "Ovelha Negra". Por outras vezes, eu deixava de brincar para ficar lendo as letras das músicas nos antigos e saudosos LPs.
Sou fã da Rita Lee até hoje.




VAN HALEN


Antes mesmo de eu começar a estudar guitarra, quando ainda arranhava alguns acordes no violão, um amigo meu (que por um acaso era o primo da minha esposa – isso bem antes de eu conhecê-la) me apresentou os álbuns "1984", "For Unlawful Carnal Knowledgment" e o "5150". Eu não acreditava no que estava ouvindo, para mim era a melhor reprodução do que era fazer rock bem feito.
Desde lá, o Van Halen continua sendo uma das melhores bandas que já ouvi na vida, e sem dúvida, teve influência direta na minha maneira de tocar.




"FLYING IN A BLUE DREAM" (JOE SATRIANI) E "PASSION AND WARFARE" (STEVE VAI)



Em 1993, eu estava começando a tocar guitarra. Tinha deixado o violão de lado e, completamente influenciado por ver meus amigos montando suas bandas, comprei uma Dolphin Stratosonic (hahahahah!). A guitarra era um chumbo!
Um amigo me mostrou esses dois álbuns no mesmo dia. Eu nunca tinha ouvido falar desses dois caras completamente desconhecidos para mim. Música instrumental de guitarra... era algo que eu nem imaginava existir.
Lembro que quando ouvi esses dois CDs, fiquei tão embasbacado com as músicas, justamente por perceber que eram instrumentais e não fazia falta alguma ter vocal nelas. Por diversas vezes eu literalmente chorei tentando reproduzir nota por nota do que eu ouvia nesses CDs.
Por mais que qualquer guitarrista que cite Joe Satriani e Steve Vai caia no clichê, é inevitável não considerar que os caras fazem parte da história.





AWAKE (DREAM THEATER)



Tudo bem, mais um clichê guitarrístico!
Ouvi esse álbum em 1994 com o meu professor de música, na época. Ele tinha me mostrado o som dos caras porque estava tocando umas duas músicas com a banda dele. Se ficar atordoado é a melhor palavra para expressar o que senti, foi assim que fiquei.
Nunca pensei que fosse possível conseguir tanta perfeição técnica com músicas que fossem ao mesmo tempo marcantes.
O Dream Thater já lançou outras coisas legais, mas para mim, esse álbum marcou uma época. Eles ousaram não serem comerciais quando o comercial do rock era ser grunge.
Animal!




SLOW BURN (GLENN KAISER AND DARRELL MANSFIELD)



Em 1997, eu estava vivendo uma fase muito legal da minha vida, estava tentando conquistar o coração de uma princesa: minha esposa!
Estávamos num churrasco com vários amigos, e durante a noite em volta da fogueira, um colega colocou esse CD.
Musicalmente, eu estava há dois anos como autodidata, e naquela fase, estava descobrindo o blues. O que mais me chamou atenção nesse CD foi o fato dele ser 100% acústico (violão, bottleneck, gaita e vocal) e ainda assim não precisar de nenhum instrumento elétrico.
As músicas eram lindas, espetaculares. Pra mim, era a resposta de uma pergunta interior: "Será que não existe alguém que faça música falando de Deus, sem que essa soe como um louvor de igreja?".
E foi isso o que senti quando ouvi o som desses caras. A resposta da minha pergunta: Sim! Era possível fazer música de muita qualidade, muito original e ainda assim, falar de Deus sem parecer um culto.





BEFORE THESE CROWDED THE STREETS (DAVE MATTHEWS BAND)



Minha fase blueseira durou uns dois anos. No final de 1999, comecei a enveredar por aprender jazz/fusion. No início de 2000, eu tinha um amigo baterista que era um carioca muito gente boa. Esse cara foi o primeiro músico com quem tive afinidade que não era de formação rockeira, e isso foi muito bom para mim. Ele me apresentou muita coisa de jazz tradicional e de fusion moderno, certamente, coisas que me influeciam até hoje.
Mas, como ele percebia que eu estava numa transição musical, me apresentou uma das melhores bandas que eu acredito já ter passado nesse planeta: Dave Matthews Band.
O choque que senti ouvindo o CD "Before These Crowded The Streets" foi de uns 15.000 volts!
Um violão extremamente bem tocado, com um bom gosto de altíssimo nível. Os arranjos de violino, sax e flauta chegam a ser assustadores de tão bem feitos.
Esse CD, até hoje é referência de como uma banda pode ser criativa e carismática ao mesmo tempo.





UNPLUGGED (THE CORRS)



Em dezembro de 2001, eu estava com minha esposa em Israel. Estávamos num kibbutz na cidade de Safed, no norte do país. Numa certa noite, estávamos assinstindo o canal VH1 (que naquela época nem pensava em existir no Brasil), e vimos um documentário sobre uma família formada por três irmãs e um irmão, que faziam um pop de altíssima qualidade mesclado com a música tradicional irlandesa.
Foi paixão a primeira "ouvida". Nesse dia, nosso amor pela música celta nasceu.
Depois de ouvirmos The Corrs, passamos a consumir tudo o que encontrávamos sobre música celta, mas até hoje considero o álbum "Unplugged" um dos CDs mais perfeitos que já ouvi.
Cada vez que ouço a versão deles para "Little Wing", de Jimmi Hendrix, chego a pensar que quem fez o cover foi o próprio autor da música, de tão linda que ela ficou.
Esse álbum mudou muito sobre minha forma de compor música pop.




ONCE (GLENN HANSARD E MARKETA IRGLOVA)



Meu hiato até ser impactado por um trabalho que me fizesse rever meus conceitos musicais, demorou quase dez anos.
Na metade do ano de 2010, uma amiga chegou com esse filme e disse: "Ricky, você e a Jackie precisam assistir isso, lembrei muito de vocês quando ouvi as músicas".
Confesso que olhei para a capa do DVD e imaginei um filme romântico/meloso dos mais chatos que existiam... mas... ledo engano!
Assim que coloquei o filme e vi que era ambientado em Dublin (Irlanda), já me interessei. Quando começou a tocar a primeira música, o filme me ganhou.
Assisti esse filme umas seis vezes em dois dias, só para ouvir as músicas.
Que poder de composição era aquele que fazia algo tão lindo com harmonias tão simples? Que melodias eram aquelas, tão fáceis, mas que raramente queremos pensar em compor algo assim?
Lembro que fiquei alguns meses pensando porque alguém não tinha me apresentado esse filme antes de eu ter lançado o CD "Shine in the Darkness", do Tehilim Celtic Rock!!!!




"HEAVIER THINGS" E "BATTLE STUDIES" (JOHN MAYER)



A primeira vez que ouvi John Mayer, foi em 2008. Lembro que na época eu tinha achado interessante, mas era blues demais para o que eu procurava consumir naquele momento.
No final de 2009, eu estava fazendo a pré-produção do CD de um amigo, quando o baterista que tocava comigo me mostrou um DVD ao vivo do John Mayer. Aquilo já me animou, achei que valia a pena conhecer melhor.
No início de 2011, decidi que era tempo de reciclar minha musicalidade e minhas influências. Portanto, ouviria diversas coisas que em outras épocas eu recusaria.
Foi nessa fase de mudança que arrumei os CDs "Heavier Things" (2003) e o "Battle Studies"(2009).
Não foi a habilidade dele, como tremendo guitarrista que é, que me fez ficar atento. Mas foi a sua capacidade de compor um pop/rock de alta qualidade com influências que fugiam do estilo.
Considero o John Mayer um dos maiores nomes da atualidade, e cada CD dele tem uma peculiaridade. Mas seu timbre sempre impecável, suas harmonias muito bem colocadas e principalmente seu poder de composição, são uma aula para qualquer músico que quer enveredar por um lado mais comercial e ao mesmo tempo mais "cabeça", dentro desse estilo.